por Rabino Daniel Touitou
Prédica de circular do Machon Amiel sobre a parashá Vaishlach, 5767.
Anjos celestiais acompanham Yaacov desde a saída da casa de seu pai até a volta, da saída dos limites de Eretz Israel até seu retorno a ela, sempre surgindo nos pontos de conexão, nos lugares limítrofes. Na saída eles estão numa escada e na volta, em Machanaim. Mas desta vez é Yaacov quem convoca os anjos para serem seus emissários e nossos sábios revelam serem estes anjos celestiais e não emissários humanos.
Que mensagem Yaacov quis transmitir ao seu irmão neste contexto?
O Ramban (Nachmânides) faz um comentário conhecido com base nas palavras de Rabi, no Talmud, esclarecendo que este encontro traz consigo uma mensagem para todas as gerações sobre o conteúdo das relações entre Israel e Esav – um relacionamento carregado de tensões que acompanha a historia da humanidade até a chegada do redentor.
Anjos não são apenas emissários, mas enviados especiais do rei – Melech – e daí terem o nome extraído do radical ML”CH. Mas quem é este rei senão o Rei dos reis, o Altíssimo e Todo-poderoso. Como pode portando um outro poder, quão grande seja, igualável até mesmo aos anjos que controlam povos e nações, coroar a si mesmo com o mesmo título de quem o enviou – o Rei dos reis?
Este termo é um exemplo de um fenômeno corrente no idioma hebraico: palavras que mudam de conteúdo após ser adicionada uma letra Alef no seu radical. Tomemos por exemplo a palavra Ahavá – amor – tem origem no radical de três letras composto por HV”H – Hava – cujo significado é – dê a mim – a vontade de receber, idéia diametralmente oposta à do amor. Contudo, ao lhe adicionarmos a letra Alef, teremos a palavra Ahavá – oposto do termo anteriormente mencionado, ou seja, a vontade de conceder, outorgar – que é a raiz do amor.
Ou por exemplo, a palavra Echad (um), provém do radical Ch”d – Chad –, cujo significado é algo afiado, cuja propriedade é rachar algo em partes, desmantelar, transformar o grande em partículas. Adicionando-lhe aquela mesma letra Alef, teremos então a palavra Echad, cujo significado é a união, o elemento uno, levando-nos à Unicidade do Todo-poderoso. O exato oposto!
Com a palavra Mal´ach (anjo) dá-se a tendência oposta: o anjo, o enviado solitário, incumbido de fazer ou administrar algo, por sua conta, como se fosse um Melech (rei), como indica o radical desta palavra – aquele que atua por força própria.
Contudo, ao adicionarmos uma letra Alef no meio da palavra, no coração do termo, revela-se a nós que o emissário não atua senão por força e comando do emitente – o Rei, cujo poder é ilimitável, o Todo-poderoso, o Rei dos reis de todos os monarcas – O Altíssimo, bendito seja. O Alef adicionado à palavraMal´ach faz com que se saiba que este enviado atua por incumbência doMelech, do Rei de todos os reis e monarcas.
Por quê justo a letra Alef?
Porque ela nos remete ao Uno, ao Primeiro, ao Criador, donos das benesses mais simples. Note-se que esta letra é formada por três outras: um Vavintermediário e dois Yud, que juntos somam 26, o mesmo valor numero do Tetragrama, O Nome Inefável do Criador.
Que mensagens portam os anjos enviados por Yaacov?
Yaacov envia uma insinuação ao seu irmão – também eu sou um emissário. Não sou um rei, nada tenho de mim senão aquilo que me concedeu o Senhor do Universo, assim como este anjo, que se tiver a letra Alef removida de seu nome – também poderia pensar que atua por conta e poder próprios. A verdade é que nada sou e tudo aquilo que fiz (no episódio da primogenitura e da benção) não foram senão partes do plano Divino – por eu saber inserir oAlef – a força Divina por meio da qual se controlam todos os acontecimentos naturais e tudo o mais que nos rodeia. Não por acaso nossos sábios desvendaram o significado das palavras Im Lavan Garti (com Lavan eu vivi) – e Tariag” mitsvót eu cumpri. Não sou ninguém nem para mim mesmo, pois jamais me olvidei do Eterno. Por quê então você teria algo a reclamar comigo? “Tuas queixas não devem ser dirigidas a mim, senão ao Altíssimo”.
De onde emana o poder de Yaacov para apontar e enviar anjos?
Está escrito no tirgum de Rabi Ionatan ben Uziel com relação aos anjos que subiam e desciam a escada, no inicio da parashá anterior: “Alguns daqueles anjos haviam notado que o homem que deitara aos pés da escada tinha a mesma fisionomia da figura humana gravada na Mercavá (Carruagem Celestial) - que eles também almejavam ver (a face humana era uma das quatro figuras da Mercavá e tem o semblante igual ao de Yaacov Avinu). Por isso os anjos desciam da escada – para contemplar e se deleitar com o esplendor de Yaacov Avinu.
O homem é o deleite de um anjo! Yaacov, que via a si mesmo como um anjo de Hashem, enviado do Rei Único e Uno, foi cunhado de fronte aos anjos e por isso tinha o poder de enviá-los até seu irmão dizendo a eles também, que lhe dissessem todas estas coisas.
Aquele que sabe inserir o Alef no seu caminho será ouvido até por um irmão como Esav. Mesmo os anjos virão assistir e se deleitar com suas atitudes. Só é preciso não esquecer de uma coisa: que o emitente é o Melech Hamal´achim– o Altíssimo bendito seja.
Nota do tradutor: o autor fez um trocadilho entre a palavra Melachim e Mal´achim (“rei” e “anjos”)
Postar um comentário
Seus comentários são muito bem vindos.