Eis uma pergunta que as pessoas fazem muito frequentemente: existe um mandamento
da Torá de repreender outra pessoa?
Maimônides, um dos grandes
codificadores da lei judaica, escreveu (Hilchot Deot 6:7): "É
uma mitsvá incumbente a toda pessoa que ao ver que o seu colega errou ou
está seguindo num caminho impróprio, admoestá-lo para que retorne a um
comportamento adequado e para informá-lo que ele próprio está causando danos a
si mesmo por causa de seus maus atos, como declara a Torá: 'Você certamente
deve admoestar o seu colega'" (Levítico 19:17).
Todavia, existem dois
aspectos essenciais ao se realizar esta mitsvá: (1) a nossa intenção e (2)
como iremos fazê-la. A intenção deve provir do amor pela outra pessoa e do
desejo de ajudá-la – e nunca para descarregar a nossa raiva sobre como as ações
desta pessoa estão nos incomodando ou que estejamos externando a nossa "superioridade
moral". A repreensão deve ser feita com amor e da forma menos dolorosa
possível. Somente quando o destinatário da repreensão sente que aquele que
o está repreendendo o ama, é que prontamente irá aceitar a admoestação.
Muitas
vezes vemos ou ficamos muito incomodados pelo comportamento incorreto de
alguém quando, na verdade, nós também nos comportamos desta maneira. A maioria
de nós já ouviu o velho ditado: "Quando você aponta o seu dedo para
alguém, lembre-se: três dedos estão apontando de volta para você!"
Eis algumas ideias
extraídas do livro Love Your Neighbor sobre
o tópico de admoestação:
1) Somos ordenados
a corrigir alguém que se comporta inadequadamente quer em questões relacionadas
ao seu relacionamento com D'us como em seu relacionamento com seus companheiros
(Hinuch 239).
2) A
pessoa deve corrigir as suas próprias falhas antes de corrigir os outros (Talmud
Baba Batra 60b). Isso não nos isenta de repreender os demais; ao
contrário: isto nos obriga a corrigirmos a nós mesmos primeiro.
3) A pessoa
não deve apenas admoestar sobre o erro, mas também ensinar o comportamento
adequado (Shlá, Toldot Adam, p. 2).
4) A repreensão deve
ser feita em particular – para não envergonhar a outra pessoa (Maimônides, Hilchot
Deot 6:7).
5) Sejamos extremamente
cuidadosos para não envergonhar a outra pessoa. (Maimônides, Hilchot
Deot 6:8)
6) Falemos agradável
e suavemente. Transmitamos que temos apenas o seu beneficio em mente.
7) Se
alguém transgride publicamente, ele deve ser repreendido imediatamente de
forma a não provocar um hilul HaShem (profanação do nome de
Deus) (Mishna Brura 608:10). Por exemplo, se alguém está em meio a
falar lashon hará (fofoca/calúnia) na frente de um grupo de pessoas, é
correto interromper a transgressão imediatamente, apesar de outras pessoas
estarem presentes. Evidentemente, isso deve ser feito da forma mais educada e
diplomática possível (Rabino Yossef Shalom Eliashiv Z"TL).
Talvez interrompê-la
em um tom de voz suave e levar a pessoa de lado para conversar. Usar uma
pergunta ao invés de uma declaração muitas vezes funciona melhor:
"Desculpe-me, mas o que você está dizendo não é fofoca/calúnia?" Se a
pessoa tem tendência a seguir os mandamentos da Torá: "A Torá não proíbe
isso?" Se a pessoa não é cumpridora da Torá: "Desculpe,
você gostaria que outros falassem sobre você desta maneira?"
8) Sejamos
muito cuidadosos em não ficarmos bravos (Marganita Tava, n° 10).
Uma repreensão feita de forma zangada não será escutada. Mesmo ao
admoestar crianças ou membros da família, façamo-lo em um tom de voz agradável
(Pele Yoetz, seções Gaavá e Zilzul). O
Rabino Haim de Volozhin ensinou que se uma pessoa é incapaz de admoestar em um
tom de voz agradável, ela está isenta da obrigação de repreender (Keter Rosh
#143, Minchat Shmuel).
9) Se alguém nos
enganou ou prejudicou, não devemos silenciosamente odiá-lo(a); tentemos
corrigi-lo(a). De uma maneira gentil pergunte: "Por que você fez tal e tal
coisa contra mim?" Se a pessoa lhe pedir que a perdoe, você não deve agir
de forma cruel, mas sim aceitar as suas desculpas (Maimônides, Hilchot
Deot 7:4,5). Ficar em silêncio quando fomos injustiçados gera ódio. No
entanto, se censurarmos a pessoa que nos lesou - seguindo as regras acima - não
guardaremos ressentimento. Mais ainda: podemos acabar descobrindo que nós é que
estávamos enganados ou a outra pessoa pode pedir desculpas.
Em resumo: a repreensão só deve ser feita com amor e
visando o benefício da outra pessoa e o seu crescimento. Às vezes, devemos
esperar um dia ou dois antes de repreender alguém. Lembre-se: a
repreensão é muitas vezes um prato melhor quando servido
frio!
Fonte: Meor Hashabat
Postar um comentário
Seus comentários são muito bem vindos.