O Ídish (ייִדיש - do alemão jüdisch, "judeu",
"judaico") é uma língua da família indo-europeia,
pertencente ao subgrupo germânico, tendo
sido adotada por judeus, particularmente
na Europa Central e
na Europa Oriental, no
segundo milênio, que a escrevem utilizando os caracteres hebraicos.
Dois grupos principais utilizam
atualmente o Ídish: judeus ortodoxos no mundo inteiro, especialmente os
ultra-ortodoxos (mesmo os residindo em Israel e Nova York), e judeus seculares,
de idade avançada ou não, que valorizam suas raízes.
O Ídish se desenvolveu dentro da cultura asquenazita, a partir do século X na Europa central e oriental, e
se espalhou para outras regiões do planeta com a emigração de seus praticantes.
O nome " Ídish " passou a ser usado para designar o idioma somente a
partir do século XVIII; antes disso, já era a principal língua falada pelos
judeus da cultura asquenazita.
O idioma é fruto de uma compilação linguística
diversificada:
1. O germânico (dominante
do ponto de vista fonético) derivado das variedades urbanas medievais do alto-alemão médio falado nas fronteiras;
2. Dialetos
modernos, como o eslavo, do polonês, ucraniano, bielorrusso e russo;
3. O semita, derivado do hebraico e do aramaico pós-clássicos, cujo alfabeto é
usado para representação fonética e escrita.
De forma simplificada, pode-se dizer que o Ídish é o idioma germânico escrito com caracteres do alfabeto hebraico moderno e em
sentido oposto ao da escrita ocidental (ou seja, escrita e lida da direita para
a esquerda). Na prática, os três componentes contribuíram em maior ou menor
grau na fonologia, morfologia, sintaxe e semântica da língua.
Origens
A origem do iídiche remonta à época medieval
germânica. Por vários séculos, houve uma migração de judeus para várias regiões
da Europa. Os judeus miscigenados com a população da Europa Central e da Europa Oriental, de origem nórdica e eslava,
formaram um grupo que passou a ser conhecido como asquenazitas. O termo "asquenaze" (ashkenazi)
tem sua origem em um vocábulo germânico que designava o povo que vivia na
região onde hoje fica a Alemanha, e foi apropriado pelos judeus que se
estabeleceram nesta área. Durante muito tempo, este grupo foi a minoria da
população judaica mundial, estando concentrada nas regiões centrais e orientais
da Europa; porém, em um período mais recente, a população asquenazita cresceu e
se espalhou pelo mundo, tornando assim o idioma iídiche mais difundido. Os
judeus asquenazitas são etnicamente diferentes dos chamados judeus sefarditas, de ascendência árabe e originalmente emigrados para
a Espanha, Europa Mediterrânea, África, e de outros países mediterrâneos ao
redor do paralelo 33. Do ponto de vista religioso, os asquenazitas se
estabeleceram simbolicamente como um grupo independente a partir do édito
contra a poligamia, de Rabeynu Gershom (aprox. 960-1028); este
édito os distanciou da autoridade rabínica oriental tradicional.
mapa do ìdish - Wikipedia. |
Para não perderem sua identidade cultural e
religiosa, os asquenazitas adotaram uma forma mista de escrita, usando os
caracteres do hebraico para anotar
a descrição fonética do idioma da região em que se encontravam. Assim, mesmo
com restrições (o hebraico é escrito sem vogais), os imigrantes judeus
escreveram textos bíblicos em alemão, espanhol ou francês, usando a forma
escrita que lhes era familiar.
Com o tempo, a expansão da população asquenazita em
direção ao leste levou a uma diferenciação de dois dialetos iídiches: ocidental
(com maior influência germânica) e oriental (com influência de linguagens
eslavas). Além da influência fonética, os caracteres escritos do iídiche
oriental mostram a influência da escrita de outras tribos locais, como godos e
dos visigodos.
Relação com idiomas semíticos
As comunidades judaicas instaladas na Europa adotavam três línguas: hebraico, aramaico e iídiche. Todas as três
dispunham de representação escrita, mas somente o iídiche poderia ser
considerado um idioma vernacular. Por essa razão, o iídiche foi empregado em
princípio para obras laicas e correspondência privada. Para a correspondência
comunitária, comentários bíblicos e toda uma série de documentos era utilizado
o hebraico. Já o aramaico era utilizado para os textos mais importantes,
incluindo os tratados oficiais (especialmente comentários sobre o Talmud) e a Cabala (misticismo judaico).
Desenvolvimento histórico
Ao longo de sua história, os falantes de iídiche
quase sempre foram bilíngues, usando o alfabeto aramaico para a escrita, mas
com normas ortográficas próprias. Podem-se distinguir três períodos para a
língua iídiche:
· Ídish primitivo (até 1250) e evidenciado por
pequenos textos;
· Ídish antigo (cerca de 1250 a 1500). Desde o
século XII ao século XVI os asquenazitas espalharam-se pelos territórios
eslavos (atuais Polônia, Ucrânia, Bielorrússia, Rússia e Lituânia) e sua língua adotou elementos
eslavos.
· Ídish médio (1500-1700). Período no qual o centro
de gravidade se desloca para o leste.
· Ídish moderno (a partir de 1700).
Do século XVII em diante a língua diferia
suficientemente da dos judeus habitantes das regiões falantes de línguas
germânicas, o que justificou a divisão entre iídiche oriental e ocidental. Essa
última variante começou a declinar no final do século XVIII e desapareceu quase
completamente durante o século XIX. Ao contrário, no leste durante
o século XIX, a língua
ressurgiu, pois os artistas, socialistas e propagandistas religiosos, em lugar
do hebraico, alemão ou eslavo, usavam a língua falada pelo povo judeu: o
iídiche. Em 1908 em conferência realizada em Czernowitz (na
atual Ucrânia), o iídiche foi aceito como “língua
nacional do povo judeu”. O iídiche continuou florescendo na literatura, teatro
e imprensa, sendo a língua da educação, com Varsóvia e Vilnius como seus centros intelectuais,
desenvolvendo-se uma língua normativa a partir dos dialetos do iídiche polonês
e lituano.
O período que antecedeu a Segunda Guerra
Mundial foi caracterizado pela dispersão de seis milhões de
judeus que habitavam os países vizinhos à Alemanha, o que permitiu aos
sobreviventes a inclusão de mais alguns idiomas, o russo, da antiga União Soviética, o inglês
da América do Norte e do
aramaico jordaniano.
A exemplo dos mórmons na América do Norte, houve
tentativa de criar-se uma região judia dentro da ex-URSS, uma espécie de
Comunidade Autônoma situada no extremo oriental da Sibéria, mas o experimento não obteve êxito,
embora a região - o Birobidjão (Birobidjan - ainda exista oficialmente
como Oblast (Distrito) Autônomo Judaico, dentro da Federação Russa.
Dados
Atualmente calcula-se que cerca de 1 milhão a 3,2
milhões de judeus falam o iídiche, a metade dos quais residente nos Estados Unidos. É mantido especialmente em
comunidades ortodoxas, onde é usado entre seus membros como a língua do grupo,
o hebraico é reservado
para a religião e a língua local para o contato com as pessoas de fora da
comunidade. Em 1995 a União Europeia aprovou uma resolução pela
qual se garantia apoio à língua e à cultura iídiche.
O iídiche continua sendo mantido como língua
vernácula natural entre muitos grupos de judeus
"ultra-ortodoxos", hasidi (chasidim) ou não,
encarregados de conservar o asquenazi como uma civilização em toda sua
totalidade. A forte resistência à assimilação e as altas porcentagens da
natalidade têm levado os demógrafos a prever que, em cerca de cem anos, haverá
um milhão de chasidim falando iídiche. Atualmente, contam com
comunidades numerosas em Antuérpia, Londres e vínculos muito estreitos com os
centros mais importantes nos Estados Unidos e em Israel. Já se pensou em trocar os
caracteres hebraicos por fontes
de outros idiomas como o inglês, que seriam “mais fáceis de memorizar”, e
modificar também o sentido da escrita, que passaria a ser da esquerda para a
direita (para uso dos destros), no entanto, para alguns instrutores essa
mudança incluiria o aspecto saudosista da questão e que procuram transferir do
passado, muito importante para endossar a credibilidade nas escrituras.
Dialetos
No seu momento de máxima expansão geográfica
(século XVI), o iídiche englobava dos Países Baixos e Itália a oeste até a Rússia a leste. O iídiche ocidental,
variante mais antiga, compreendia por sua vez o iídiche norte-ocidental (Países
Baixos, norte da Alemanha e Dinamarca) e o iídiche sul-ocidental (Alsácia, Suíça e sul da Alemanha). O iídiche
oriental, por sua vez, contava com três dialetos principais: o norte-oriental (Lituânia, Bielorrússia, Letônia) conhecido popularmente como lituano;
o centro-oriental (Polônia e Hungria), denominado popularmente polonês e
o sul-oriental (Ucrânia e Romênia), conhecido geralmente como ucraniano ou volínio.
Os dialetos atuais são os seguintes:
·
central, também denominado polonês ou polaco;
·
setentrional ou lituano, mesmo que se estenda por grandes
áreas do território bielorrusso;
·
meridional ou ucraniano.
Ao critério fonológico adotado no Ídish ao longo dos tempos e dos lugares,
abriu-se um leque de variantes para a pronúncia de uma única frase “comprar
carne”: em iídiche ocidental kafn flash, no central kojfn
flash, no sul-oriental kojfn flejs e no
norte-oriental kefjn flejs. Outras diferenças fonológicas e léxicas
demonstram também que o dialeto central é diferenciado e distingue-se por um
jogo completo de contrastes na duração da vogal, enquanto o segmento
sul-oriental sofre os efeitos de trocas vocálicas originando palavras
como hont mão, huz casa e rign chuva,
e no dialeto norte-oriental houve a perda do gênero neutro, demonstrando em
todos esses casos que o idioma, por ser uma criação espontânea do meio, não
pode ser criado nem recriado.
O Ídish normativo está inspirado na pronúncia
pelos dialetos setentrionais ainda que a
gramática tenha influência meridional. O alemão contribuiu também com a
normatização do Ídish, especialmente por aqueles que acreditavam ser o
iídiche uma corruptela do alemão.
Escrita
O iídiche utiliza como escrita uma adaptação
do alfabeto hebraico e
escreve-se da direita para a esquerda. Como sua fonologia é estranha ao árabe ou ao hebraico, o iídiche usa o
recurso dos dígrafos e outras letras modificadas conforme sua patognomônia,
além dos caracteres tradicionais do hebraico. O modo de inscrever as vogais nesse
alfabeto variou muito de acordo com o tempo e o lugar, sendo estas atualmente
representadas através de caracteres especiais desenvolvidos para uso exclusivo
do moderno hebraico.
Gramática
Atualmente, com a criação de Israel, uma das grandes influências do iídiche
tem sido o vocabulário hebraico (ou mais exatamente hebraico-aramaico) e não só
no que concerne ao uso religioso como também em palavras de uso cotidiano que
não têm conexão particular com o modo de vida judeu. As palavras
hebraico-aramaicas foram transportadas ao iídiche em sua pronúncia asquenazita,
ainda que em Israel a pronúncia seja a dos judeus sefarditas. Quando as
palavras hebraico-aramaicas passaram ao iídiche falado em Israel, usou-se a
pronúncia do plural segundo as normas hebraicas, não mais segundo as normas
alemãs.
A outra grande influência na mutação do Ídish (essa mais antiga), foram as línguas eslavas, devido às migrações judaicas para
o leste da Europa, junto com a expansão germânica da Idade Média e aproveitando a boa acolhida
do príncipe Principe Boleslaw o Piedoso de Kaliz que
concedia ao povo judeu tolerância religiosa e facilidades comerciais com leis
diferenciadas aos cristãos da Polônia. Nessas regiões onde habitavam falantes
eslavos, o iídiche foi submetido a forte influência léxica, morfológica,
fonológica e sintática das línguas eslavas. Muitas palavras de uso cotidiano
são eslavas de origem (káchke pato, do polonês kachka; táte pai,
do tcheco tata).
As desinências dos casos foram preservadas só no
singular e aparecem em modificações dos substantivos mas raramente nos
substantivos em si. Os casos dativo e acusativo fundiram-se no masculino,
enquanto o nominativo e o acusativo fundem-se no feminino e no neutro. O
sistema para formar substantivos plurais, de origem alemã, é enriquecido por
elementos de origem hebraica. Com o passar do tempo, nota-se que,
gradativamente, tanto no gênero quanto na forma plural, muitos substantivos
vão-se diferenciando de seus similares alemães. O Ídish possui um sistema bem
desenvolvido de diminutivos de origem alemã mas de base gramatical eslava onde,
por tratar-se ainda de uma prótese cultural aplicada num alfabeto sem muitos
recursos, os verbos são conjugados apenas no presente do indicativo,
expressando-se nos demais tempos e modos mediante palavras auxiliares
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