Por Rabino YY Yaacovson
Empatia: Uma nova professora estava
tentando usar o que aprendera nos seus cursos de psicologia. Começou a aula
dizendo: “Quem achar que é idiota, fique em pé!”
Após alguns segundos,
Joãozinho levantou-se. A professora ficou surpresa, mas percebeu que era um
momento oportuno para ajudar uma criança.
“Você acha que é idiota,
Joãozinho?” perguntou ela.
“Não, senhora,”
respondeu ele, “mas fiquei chateado de ver a senhora de pé aí sozinha!”
Moshê pergunta o Nome de
D'us
A porção desta semana da
Torá relata a trágica história de um povo sofrendo por décadas sob um império
cruel e brutal. Os bebês recém-nascidos do sexo masculino são atirados ao Nilo;
homens e mulheres judeus são submetidos ao trabalho escravo, espancados e
torturados impiedosamente. A vida judaica se tornou sem valor.
“Passou-se um longo
tempo, e o rei egípcio morreu,” declara a Bíblia. “O povo judeu gemia por causa
de sua subjugação, e eles clamaram.”1 A tradição midráshica explica que esse
versículo significa que o líder egípcio foi afligido com lepra, comparável à
morte, e seus médicos disseram a ele que a única cura seria matar bebês hebreus
– 150 pela manhã e 150 à noite – e banhar-se no sangue deles duas vezes ao dia.2 O
sofrimento do povo judeu chegou a um ponto insuportável.
Foi a essa altura que
“seu clamor chegou a D'us; D'us ouviu seus gemidos.”3No remoto deserto do Sinai, D'us
convence Moshê a deixar sua vida isolada e introvertida como pastor, para
entrar na toca do leão e libertar seu povo alquebrado pelo cativeiro.
Num diálogo
singularmente forte entre Moshê e o Todo Poderoso, Moshê diz a D'us: “Eu irei
ao povo de Israel e direi a eles: “O D'us de vossos pais me enviou a vós.” E
ele dirão: “Qual é o nome dele?” – O que devo dizer a eles?”
“Eu Serei Como Eu
Serei!” responde D'us a Moshê. “Diga aos filhos de Israel: ‘Eu Serei me enviou
a vocês.’”4
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Em memória das vítimas do antissemitismo |
D'us no Exílio: Essa parece uma resposta sem sentido. Moshê
pergunta a D'us o Seu Nome, e a resposta: “Eu estarei como Eu estarei!” Qual o
significado por trás dessas palavras curiosas?
O notável comentarista
bíblico Rashi,5 baseado na tradição talmúdica,6completa as palavras faltantes: “Eu
estarei [com vocês em seu sofrimento atual, assim] como Eu estarei [com vocês
nos futuros exílios e perseguições].”
Mas isso também nos
deixa em dúvida. Moshê perguntou a D'us um nome, por um meio de identificação,
que ele então pudesse comunicar ao povo judeu. Em resposta, D'us apresenta um
verbo em vez de um nome adequado, uma atividade em vez de uma descrição.
Uma Estranha Pergunta: Para avaliar a resposta de
D'us, devemos primeiro entender a pergunta de Moshê. Moshê diz a D'us: “Veja,
eu irei aos filhos de Israel e direi a eles: “O D'us de vossos pais me enviou a
vós”, e eles dirão: “Qual é o nome Dele?” – O que devo dizer a eles?”
Maimônides,
em seu Guia Para os Perplexos, propõe uma questão.7 Por que Moshê estava convencido de que
o povo judeu desejaria saber o nome do D'us que o enviara na missão para
libertá-los da escravidão? Poderia parecer que com Moshê demonstrando
conhecimento do nome de D'us, ele de alguma forma autenticaria sua alegação
como divino mensageiro para redimir os hebreus do Egito. Mas por quê? Se eles
tivessem ouvido o nome de D'us antes da vinda de Moshê, seria fácil presumir
que Moshê aprendera o nome da mesma fonte que eles, e não necessariamente de
D'us. Se eles jamais tivessem ouvido o nome antes, por que o novo nome que
aprenderam com Moshê os convenceria a confiar nele?
Além disso, Moshê inicia
a pergunta dizendo: “Veja, eu irei aos filhos de Israel e direi a eles: ‘O D'us
de seus pais me enviou a vocês,’ e eles diriam: ‘Qual é o nome Dele?’’’
Moshê então discutiria
com eles o D'us de seus pais, um D'us sobre o qual eles aprenderam com os pais.
Os seus pais nunca compartilharam com eles o nome desse D'us? Como os pais
falaram sobre esse D'us ou rezaram a Ele sem algum tipo de nome ou descrição?
A Questão das Questões: Quando Moshê diz: “Veja,
irei aos filhos de Israel e direi a eles: ‘O D'us de seus pais me enviou a
vocês,’ e eles dirão: ‘Qual é o nome Dele?’ – O que devo dizer a eles?”, ele
não está procurando o crachá de D'us ou Seu título. Moshê está abordando a
questão crucial das questões, uma que certamente será proferida pelos hebreus a
quem ele está sendo enviado.
“Qual é o Seu nome?” os
escravos judeus clamarão a Moshê. Por mais de oito décadas estamos sufocados
sob o jugo da cruel tirania. Milhares e milhares de nossas crianças foram
dizimadas para que o faraó pudesse se banhar diariamente em sangue judaico;
bebês foram roubados do seio de suas mães e atirados no rio; temos sido
espancados, humilhados, torturados, mortos. Os egípcios transformaram nossa
vida num pesadelo infernal e reduziram nossa dignidade à de sub-humanos. De
repente, o grande e poderoso D'us do céu e da terra, que cria e governa o mundo
inteiro, decidiu sentir nossa dor?
“Qual é o nome Dele?” os
escravos gritarão. Você, Moshê, diz que D'us tem “visto o sofrimento de Seu
povo no Egito,”8 e portanto enviou você para nos
redimir. Mas onde esteve Ele até agora? Qual é o nome, o caráter, de um D'us
que pode sentar nos céus e ficar apático enquanto bebês são tirados dos braços
das mães e atirados ao Nilo, e o faraó se banha no sangue de crianças judias?
Onde esteve Ele nos 86 anos em que estamos sofrendo sob os chicotes dos
feitores, sendo espancados até a morte? É este o D'us que deveríamos abraçar e
seguir? É este o D'us em que devemos confiar? É este o D'us ao qual devemos ser
gratos? Um D'us que fica indiferente às lágrimas e gemidos da humanidade?
A Resposta: Jamais na história D'us respondeu a essa
pergunta, a maior de todas as questões e talvez o argumento mais forte para o
ateísmo. O Livro de Job, dedicado à questão de por que os inocentes sofrem,
conclui com uma revelação de D'us a Job, dizendo a ele, em essência, que não há
maneira pela qual a mente humana possa criar os argumentos lógicos nos quais se
encaixe o comportamento de D'us. O finito e o infinito simplesmente não
combinam.
D'us também não deu a
resposta a Moshê. É por isso que no final da Parashá desta semana,9 Moshê
confronta D'us, falando palavras duras: “Meu Senhor! Por que fizeste mal a este
povo? Por que me enviaste? Desde que eu fui ao faraó para falar em Teu nome,
ele fez o mal para este povo, mas Tu não salvaste Teu povo!”
O que D'us diz a Moshê
para comunicar ao povo judeu é: “Eu Serei Como Eu Serei!” Como nos lembramos,
os sábios talmúdicos e Rashi explicam que isso significa “Eu estarei com vocês
em seu sofrimento atual, assim como estarei com vocês nos futuros exílios e
perseguições.” Qual é a mensagem por trás dessas palavras?
Eu sou um mistério, D'us
confessa. Eu sou estranho, infinitamente estranho. Meu roteiro da história é
incognoscível para a mente e coração humanos. Porém, vocês deveriam saber uma
coisa: não sou um D'us afastado, residindo nos céus e governando objetivamente
o destino de cada ser humano da maneira que acho apropriada. Estou presente com
vocês em sua angústia. Estou no gemido do escravo espancado, no lamento de uma
mãe enlutada, no sangue derramado de uma criança assassinada. Você está
chorando? Estou chorando com você. Você se sente esmagado? Estou esmagado com
você. Não importa o quanto sua escuridão é profunda, estou ainda mais profundo.
Não orquestro o sofrimento humano de algum planeta distante, afastado de seu
sofrimento existencial. Eu estou ali com você, sofrendo com você, soluçando com
você, rezando pela redenção junto com você.10
Talvez o homem jamais
compreenda a mente de D'us. Mas que ele não pense, D'us diz a Moshê, que
entende o propósito do sofrimento, que dá a Si Mesmo o luxo de não sentir a
intensidade da escuridão. Cada lágrima que derramamos se torna Sua lágrima. Talvez
ele não as enxugue, mas Ele as torna Suas.
Shabat Shalom,
Rabino
Eddy Khafif