Qual o dia mais triste da vida de uma pessoa?
Provavelmente é o dia do falecimento de um parente mais próximo (pai, mãe,
irmão, irmã, filho, filha ou cônjuge). E se a pessoa não sente nenhuma tristeza
pelo falecimento de seu parente próximo? Então certamente deveria se sentir
triste por sua falta de apreço e por sua incapacidade de sentir a emoção
apropriada.
Dia 31 de julho, 2a feira à noite, iniciando-se com o
nascer das estrelas, até o anoitecer de 3a feira, é quando Tishá BeÁv, o 9o. dia do mês Judaico
de Av, é observado. (Em S.
Paulo , o jejum se inicia às 17:43 hs de 2a feira e se encerra às 18:14 hs de 3a feira).
Tishá
BeÁv é o dia mais triste do calendário Judaico. O que a pessoa deve fazer
se não tem nenhum sentimento em especial por Tishá BeÁv? Se for Judia e
se se identifica com o Judaísmo, então lhe cabe descobrir o porquê de nós, como
um Povo, estarmos de luto neste dia. O que perdemos nesta data? O que ela
significa para nós? O que devemos fazer para recuperar o que perdemos? No
mínimo deveríamos sentir muito pelo fato de não sentirmos nenhum pesar nesta
data.
Em 1967, paraquedistas israelenses
capturaram a Cidade Velha de Jerusalém e abriram caminho até o Muro das
Lamentações (Kotel
HaMaaravi - www.aish.com/wallcam/). Muitos dos soldados religiosos
estavam tomados de emoção e encostaram-se no Muro, orando e chorando. Um pouco
afastado do Muro estava um soldado não religioso que também estava chorando.
Seus colegas perguntaram: “Por que você está chorando? O que o
Muro representa para você?” O
soldado respondeu: “Estou chorando por não saber por que
deveria estar chorando!”
O dia
de Tishá BeÁv é observado para lamentarmos a perda dos dois Templos
Sagrados de Jerusalém. Qual foi a grande perda resultante da destruição dos
Templos? Foi a perda do sentimento da presença Divina entre nós. O Templo era
um local de orações, espiritualidade, santidade e milagres a céu aberto. Era a
parte mais importante do Povo Judeu, o ponto focal da identidade Judaica. Três
vezes ao ano (Pessach, Shavuót e Sucót) todo Judeu ascendia ao Templo. Sua
presença permeava todos os aspectos da vida Judaica: o planejamento do ano, o lado para onde a pessoa se voltava para
rezar, onde recorria por justiça ou para estudar Torá, onde trazia certos
dízimos, etc.
Neste
mesmo dia, através da História, muitas tragédias aconteceram com o Povo Judeu,
incluindo:
1. O incidente com
os espiões difamando a Terra de Israel, com o consequente decreto para vagarem
pelo deserto por 40 anos.
2. A destruição do
Primeiro Templo, em Jerusalém, por Nevuchadnétzar, Rei da Babilônia.
3. A destruição do
Segundo Templo, em Jerusalém, pelos romanos, no ano 70 E.C.
4. A queda da cidade
de Betar e o fim da revolta de Bar Kochvá contra os romanos, 62 anos depois, no
ano 132 E. C.
5. Os Judeus da
Inglaterra são expulsos em 1290.
6. Iniciam-se as
Primeiras Cruzadas. Dezenas de milhares de Judeus são mortos e muitas
comunidades por toda a Europa, completamente destruídas.
7. Os Judeus da
Espanha são expulsos em 1492, dando início à Inquisição Espanhola.
8. A
Primeira Guerra Mundial irrompeu em Tishá BeÁv de 1914, quando a Rússia
declarou guerra contra a Alemanha. O ressentimento alemão após ter sido
derrotado criou o palco para o Holocausto.
9. Começa a deportação
dos Judeus do Gueto de Varsóvia.
Tishá BeÁv é um dia de jejum (com a mesma duração que Yom Kipur: do anoitecer de um dia até o
anoitecer do dia seguinte) que culmina e encerra as Três Semanas de luto do
Povo Judeu. Neste dia somos proibidos de comer e beber, banhar-nos, usar
cremes, loções ou óleos, calçar sapatos de couro ou manter relações conjugais. A ideia é minimizar o prazer e fazer o corpo
sentir o desconforto que a alma deveria sentir em relação a tragédias como
estas. Como em todos os dias de jejum, o objetivo deste dia é a introspecção,
fazendo um balanço espiritual e corrigindo nossos caminhos – o que em Hebraico
é chamado Teshuvá, o retorno para o caminho do bem e da honra. Os Tefilin
são colocados somente na parte da tarde, após as 13:00 hs.
Teshuvá
é um processo de quatro etapas:
1) Precisamos nos conscientizar das
coisas erradas que fizemos e nos arrepender de tê-las feito. 2) Precisamos parar de fazer estas
transgressões e corrigir quaisquer danos que possamos ter causado. 3) Devemos aceitar sobre nós não
repetir o erro novamente. 4)
Precisamos, verbalmente, pedir ao Todo-Poderoso que nos desculpe.
Na noite de Tishá BeÁv lemos
na sinagoga a Meguilá Eihá (pronuncia-se Eirrá), o livro das
Lamentações, escrito pelo profeta Yrmiáhu (Jeremias). Também recitamos as Kinót, poemas especiais recontando as tragédias que aconteceram com
o Povo Judeu durante toda a História (Disponível em www.artscroll.com/Products/KPAP.html). Com o ambiente à meia luz,
sentamo-nos em almofadas ou pequenas banquetas em sinal de luto.
O estudo da Torá é o coração, a alma
e o sangue do Povo Judeu. É o segredo de
nossa sobrevivência. Estudar leva ao entendimento e o entendimento leva à ação.
Uma pessoa não consegue amar aquilo que não entende. Estudar Torá nos dá uma
grande satisfação ao nos proporcionar a oportunidade de entendermos nossas
vidas. Em Tishá BeÁv somos proibidos de estudar Torá, com exceção
daquelas partes que tratam sobre as calamidades que o Povo Judeu tem sofrido.
Precisamos parar, refletir, mudar a nós mesmos e, somente assim, estaremos
aptos a fazer deste um mundo melhor.
Durante toda a nossa História
passamos por Holocaustos, Pogroms, Cruzadas e outros massacres. Isto por si só
já nos faria despertar a seguinte pergunta: “Por que nossos
ancestrais tão persistentemente insistiram em se manter Judeus quando, com
poucas palavras, poderiam ter se convertido – exceto durante o Holocausto – e
salvado suas vidas e a de seus familiares? O que eles sabiam que não sabemos? O
que precisamos então saber?” Para aprender mais, clique em www.aish.com/holidays
(em inglês) ou www.aishlatino.com/h/9av/ (em espanhol).
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