Há alguns dias, o mundo
presenciou um ato que mancha a história milenar dos esportes.
Sempre acreditamos que todas as
competições esportivas ficavam acima dos conflitos políticos e das diferentes
nacionalidades. Os milhares e milhares de praticantes, em qualquer que fosse o
evento, deveriam respeitar seus adversários e tratar todos com a deferência que
qualquer atleta merece.
No mês de outubro, assistimos um
dos pontos mais baixos da comunidade esportiva. Em uma competição acontecida em
Abu Dhabi, Tal Flicker, um judoca israelense, ganhou a medalha de ouro. Na hora
de subir ao pódio, pasmem, a organização do evento se recusou a estender no
mastro a bandeira de Israel e a tocar Hatikva, o hino nacional do
país.
Tal Flicker, o campeão
israelense, então, na hora da medalha, cantou desafiadoramente e sozinho, o
hino de sua nação.
Felizmente, a notícia deste
desrespeito correu o mundo através de todos os tipos de mídia, seja nos jornais
impressos, nos sites de notícia, no universo das redes sociais,
todos se manifestaram, de uma forma ou de outra, o repúdio a este ato,
totalmente em desacordo com a prática e a história desportiva.
Já, antes desta ofensa para com
Israel, durante os Jogos Olímpicos no Brasil, um judoca egípcio se recusou a
cumprimentar seu adversário israelense que o havia derrotado.
Estas manifestações de ódio fazem
parte de um contexto mais amplo, a demonização do estado judeu.
Pode haver alguma dúvida de que
Israel é o país mais vilipendiado do mundo hoje? Nenhuma outra nação engendra
tanto desprezo, seja medido em polegadas de coluna de jornal, protestos de rua
ou pixels de computador. O único aspecto do ódio mais perturbador do que a sua
onipresença virulenta é a falta de proporção com os erros reais (e alegados) de
Israel. A Coréia do Norte funciona como um vasto gulag, o presidente da Síria,
Bashar al-Assad, derrama armas químicas em crianças e os irmãos Castro governam
despoticamente a ilha cubana por cinco décadas, mas nenhum desses regimes
ditatoriais desperta a fúria dirigida ao estado democrático judaico. A maioria
dos europeus, de acordo com pesquisas, considera este pequeno país de oito
milhões de pessoas como a maior ameaça para a paz mundial. Um soldado
israelense dispara uma bala de borracha na Cisjordânia e isso irá gerar
multidões venenosas em cidades ao redor do globo; as forças armadas
paramilitares iranianas assassinam manifestantes pacíficos em plena luz do dia
e o mundo emite apenas um protesto.
Por que Israel é fruto deste ódio
tão desmesurado?
A resposta fácil é o
antissemitismo e, embora o ódio aos judeus certamente contribua para gerar
hostilidade a Israel, esta não pode ser a única explicação. Conhecemos isso
porque Israel, desde a sua fundação em 1948, tem sido um estado judeu, e ainda
assim seu status como vilão do mundo só foi conquistado décadas mais tarde.
Grande parte do motivo da mudança
nas atitudes do mundo pode ser atribuída a uma transformação básica na ótica do
conflito no Oriente Médio. Quando Israel declarou sua independência em 14 de
maio de 1948, fez isso como uma nação incipiente de sobreviventes do Holocausto
e pioneiros agrários isolados, cercados por exércitos árabes hostis com a
intenção de terminar o que os nazistas começaram. Nestas circunstâncias, não é
difícil entender por que Israel ganhou a admiração de tantas pessoas em todo o
mundo durante os primeiros anos de sua existência precária.
Israel aceitou o Plano de
Partição das Nações Unidas para a Palestina, que dividiria o território do
mandato britânico entre árabes e judeus e colocaria Jerusalém sob uma forma de
fiscalização internacional. Os árabes o rejeitaram, escolhendo a guerra contra
o compromisso. Quando Israel ganhou essa guerra, também ganhou a admiração de
grande parte do mundo (não árabe e não muçulmano). Aqui estava uma pequena
nação, uma jovem democracia, defendendo-se contra a agressão que tinha como
objetivo aniquilar o país. Diante de tais desafios, Israel, nos meados do
século XX, era facilmente identificável como David batalhando por sua própria
sobrevivência contra o Golias árabe.
A narrativa, no entanto, começou
a mudar após a Guerra dos Seis Dias de 1967. Em meio à defesa contra outra
tentativa árabe de destruí-lo, Israel conquistou parte da Cisjordânia e da
Faixa de Gaza, territórios que tinham, até aquela época, sido ilegalmente
ocupados pela Jordânia e pelo Egito, respectivamente. Ambas as parcelas de
terra eram povoadas de árabes, muitos das quais haviam fugido do Mandato da
Palestina - por sua própria vontade ou por serem expulsas de suas casas pelas
tropas israelenses - em 1948.
Agora, o conflito poderia ser
reformulado e Israel não era mais o pequeno país contra o vasto mundo árabe,
mas era Israel poderoso contra os palestinos ocupados e apátridas (que
começariam a abraçar uma denominação "palestina" distinta, em
oposição à identidade nacional árabe). Em resumo, a luta de Israel para existir
ao lado de seus vizinhos em paz passou de ser conhecida de conflito
árabe-israelense (em que Israel era inegavelmente David) para o conflito
israelo-palestino (em que seus inimigos começaram a afirmar que o estado
judaico era na verdade Golias).
Assim, todas as vozes
esquerdopatas, que viam os palestinos como o povo oprimido, passaram a perceber
Israel como país dominante e agressivo.
Com esse apoio generalizado ao
povo palestino, esta percepção tendenciosa do estado judeu gerou este ódio
desmedido contra o país sionista e reacendeu o antissemitismo no mundo.
Como a mídia abraça sempre as
visões esquerdistas, esse ódio se disseminou mundo afora.
Israel, os israelenses e, por
consequência o povo judeu, começaram a ser atingidos por esta visão distorcida
da história.
Assim, mesmo os eventos
desportivos, que deveriam estar acima de qualquer ato político, tornaram-se
arenas para manifestações de ódio. A nobreza dos esportes foi contaminada
indelevelmente.
Entretanto, o mundo judaico pode
contar com seu povo, que cria cidadãos como Tal Flicker, que orgulhosamente
defende sua pátria no ato solitário de cantar o hino de Israel.
É cedo para sabermos se esta
atitude de Abu Dhabi vai se repetir ou se podemos esperar que o mundo perceba o
perigo de contaminar o mundo esportivo com ações que representem o oposto de
tudo que o esporte acredita.
Porém, hoje, queremos
cumprimentar este judoca que se colocou acima desta ofensa e levou seu hino
para o pódio.
Kol HaKavod, Flicker.
Secretário de Estado de Desenvolvimento Social
Deputado Federal
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