Outro dia eu estava na fila do
restaurante. Uma mulher à minha frente pediu ao atendente: “Gostaria de um shwarma (um tipo de sanduíche, geralmente de carne
de carneiro bem temperada, dentro de uma pita (pão sírio)). O senhor poderia,
por favor, esquentar a pita antes de colocar a carne dentro?” O rapaz que cuidava da churrasqueira
respondeu: “Não. A pita precisa ser
esquentada depois que a carne está dentro, para se obter um melhor resultado”. A mulher retrucou: “Eu não quero que você faça desta
maneira. Então me faça o shwarma sem esquentar a pita”. “Não”, respondeu o churrasqueiro. “Se a senhora quer uma pita aquecida, vou
esquentá-la depois de colocar a carne dentro”. A mulher apenas riu e exclamou: “Isto é incrível!”
Lembrou-me
de uma história sobre um pai que perguntou a seu filho, um escoteiro, se havia
feito alguma boa ação naquele dia. O garoto disse: “Sim, ajudei uma senhora de idade a atravessar a rua. Precisamos de
12 escoteiros para consegui-lo”. “Por que precisaram de 12 garotos?”, perguntou o pai, curioso. E o filho
respondeu: “Porque ela não queria
atravessar!!”
Quando
praticamos atos de bondade, todos temos - alguns mais, outros menos – um certo
benefício pessoal por fazer a gentileza. Esperamos que, ao agir com bondade, a
pessoa beneficiada gostará mais de nós ou nos dará um desconto ou alguma
condição vantajosa. Muitas vezes ‘distorcemos’ a bondade em nosso benefício.
Nesta
Porção Semanal, Yossêf enterra seu pai, Yaacov, na Maarát HaMachpelá,
a caverna que seu bisavô, Avraham, adquiriu de Efron, o Hitita, para servir
como sepultura para a sua família. Nossos Sábios chamam o ato de se enterrar um
falecido de ‘chessed shel emet’, a
verdadeira bondade. Por quê? Como mencionamos acima, toda vez que fazemos uma
bondade há uma certa expectativa de que a pessoa beneficiada retribua o nosso
ato. Quando se executa os passos necessários a um enterro - a tahara (a lavagem e o vestir do
falecido, enquanto se recitam preces) e a kevura
(preparar a sepultura, comparecer ao funeral e fazer o enterro) – não existe a
possibilidade de que a pessoa receba alguma retribuição do beneficiário de sua
bondade. O falecido nunca irá retribuir a bondade que está recebendo. Sim, é
verdade: o Todo-Poderoso nos recompensa por todas as mitsvót que
fazemos, mas o falecido não retribuirá nossa bondade.
Na
oração do Shemoná Esrê (também conhecida por Amida, a prece principal que um judeu faz três vezes ao dia, na
qual louvamos D’us, fazemos pedidos para todo o Povo e o mundo, pedidos
pessoais e agradecimentos ao Todo-Poderoso), temos a seguinte frase: “Gomel
Hassadim Tovim” – Ele que nos
concede boas bondades. Por que o Sanhedrin,
o grande tribunal rabínico que compôs o Shemoná Esrê, em sua imensa
sabedoria, decidiu ser necessário incluir a aparentemente desnecessária palavra
‘boas’ para nos dizer que tipo de bondade D’us nos concede?
A
resposta é que D’us quis que imitássemos o Seu comportamento, para assegurar
que a bondade que praticamos seja realmente ‘boa’. Todos nós temos a capacidade
de tentar arrumar explicações e justificativas para os nossos atos. Nossos
cérebros são ferramentas muito poderosas. Se você perguntar: “Cérebro, dê-me 10 razões para assaltar
um banco, ele lhe responderá: (1) Pense em todo o bem que poderá fazer com o
dinheiro! (2) Ninguém sairá prejudicado, pois o banco tem seguro! (3) Será
emocionante, etc”. E se você pedir
ao seu cérebro 10 razões para NÃO assaltar o banco, ele rapidamente responderá:
“(1) Você provavelmente será pego! (2) Irá para a cadeia. (3) Envergonhará seus
familiares. (4) É errado!”, e assim por diante.
Todos
nós precisamos estar conscientes das motivações por trás de nossas atitudes e
ter certeza de que estão sendo feitas pelas razões corretas.
Para
ilustrar isto, trago-lhes uma historinha infame: Conta-se que um homem muito
rico e miserável voltou à noite para casa e perguntou à esposa: “O que temos para jantar?” A esposa respondeu: “Frango. Mas me parece que ele está com
um cheiro esquisito!” O marido
disse: “Sabe, avisaram que há um
indivíduo carente que está precisando de comida. Vou pegar este frango e dar a
ele. Você, querida esposa, prepare outra coisa para o jantar!”
No
dia seguinte, o marido chegou mais tarde do que de costume e a esposa
perguntou: “O que aconteceu?” O marido respondeu: “Lembra-se do pobre que precisava de
alimento e a quem dei o frango? Ele ficou doente e fui cumprir a mitsvá de bikur holim (visitar os enfermos)”.
No
terceiro dia, o marido chegou muito atrasado. Quando a esposa perguntou a
razão, o marido respondeu: “Bem,
você se lembra do pobre a quem dei o frango e que ficou doente? Infelizmente
seu estômago era muito sensível e acabou morrendo. Fui tomar as providências
para seu funeral. Foi tudo muito triste, mas pensei no seguinte: ‘Não é
maravilhoso que conseguimos fazer 3 mitsvót (alimentar uma pessoa
carente, visitar um doente e participar de um funeral) investindo apenas um
frango mal cheiroso?’”
Nossa
lição: ao praticarmos atos de bondade, asseguremo-nos que seja um ato bom para
seu recebedor e que seja algo que a pessoa realmente deseja!
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